Estudo aponta que programas de transferência de renda levam 2 milhões de brasileiros a saírem do mercado de trabalho.
Durante a pandemia, o governo federal implementou um socorro financeiro que elevou os montantes do programa de transferência de renda, reincorporando-o ao nome Bolsa Família durante o governo Lula. No entanto, essa medida teve repercussões na economia.
Um estudo pioneiro da Genial Investimentos revelou que o benefício reforçado permanentemente levou cerca de dois milhões de brasileiros a deixarem o mercado de trabalho. Esse estudo investigou um fenômeno recente na economia que intrigou muitos especialistas: a diminuição da taxa de participação da população economicamente ativa, definida como aquela que está empregada ou procurando trabalho dentro da população em idade ativa, que abrange todos os brasileiros em condições de trabalhar.
Os pesquisadores observaram que essa redução na taxa de participação coincidiu com o período em que o Bolsa Família registrou seu maior aumento histórico.
Até 2020, o programa de transferência de renda equivalia a uma média de 19,8% do salário mínimo. Durante a pandemia, o auxílio emergencial subiu para 42,6% do valor mínimo até dezembro de 2022, quando foi renomeado como auxílio Brasil. Sob o governo Lula, novamente denominado Bolsa Família, o benefício atingiu 50% do salário mínimo em setembro de 2023.
O economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, esclarece os fatores que influenciaram essa mudança.
“De acordo com a teoria econômica, programas de transferência de renda tendem a reduzir o incentivo do trabalhador para procurar novos empregos, mas isso depende do valor da transferência”, explica ele. “Quando o Bolsa Família foi lançado, o valor transferido era relativamente baixo, o que não justificava deixar de trabalhar. Porém, quando o benefício chega a representar metade do salário mínimo em um país onde aproximadamente 50% dos trabalhadores ganham um salário ou menos, o incentivo se torna muito forte.”
Enquanto isso, desde setembro de 2022, os trabalhadores com menor nível de escolaridade foram os que mais perderam participação no mercado de trabalho, como evidenciado pela linha vermelha no gráfico abaixo, que separa os trabalhadores de acordo com seu nível educacional.
Para José Marcio, a decisão dos beneficiários de não buscar trabalho devido ao recebimento de uma renda do governo é uma escolha racional.
“Não se trata de preguiça, mas sim de uma avaliação racional do custo-benefício. Se o custo de trabalhar for maior que o benefício, o trabalhador não se sentirá motivado a trabalhar. Ele é racional; a diferença entre o benefício e o custo não justifica o esforço se ele perder o benefício”, afirma.
Considerando todos esses aspectos, o estudo concluiu que o aumento no Bolsa Família, de cerca de R$ 200 antes da pandemia para aproximadamente R$ 600 atualmente, foi responsável por uma queda adicional de 1,7 ponto percentual na taxa de desemprego em 2023. Em outras palavras, dois milhões de pessoas desistiram de trabalhar ou de procurar emprego, deixando de ser contabilizadas como parte da população economicamente ativa.
Essa diferença pode explicar por que as previsões para a taxa de desemprego de 2023, que apontavam para um índice entre 8,5% e 9%, ficaram acima do registrado de 7,5% no final do ano passado.
Os pesquisadores também atribuem a isso mais um fator: enquanto os benefícios sociais aumentaram significativamente, houve uma queda no salário real em 2023 devido à inflação, o que reduziu os incentivos para o retorno ao mercado de trabalho.
Este conteúdo foi embasado no artido da CNN Brasil
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